sábado, 5 de junho de 2010

Na biblioteca, texto vencedor da CH!

  Eu estava sentada, de cabeça encostada na prateleira e pés decalços no chão de carpete. Pilhas e pilhas de livros ao meu redor formavam quase uma muralha. Assim, minha chefa não percebia que, em vez de estar fazendo o inventário, eu na verdade lia uma nova edição de Alice no país das maravilhas, que acabara de chegar.
  Fazia três meses que eu trabalhava naquela pequena livraria e já era considerada uma péssima funcionária. Só não havia sido demitida ainda porque a dona do lugar era uma senhora bem legal. Sabia que eu precisava do dinheiro para pagar a mensalidade da escola.
  Estudo no Colégio Vilela Sá. Uma instituição criada por filhinhos de papai para filhinhos de papai. Odeio aquele lugar, odeio. Todos só pensam em festas, fofocas e dinheiro. Nem se preocupam com o que vão fazer da vida. Afinal, a grande maioria simplismente vai herdar impérios multimilionários. O resto, como eu, vai ralar para entrar numa boa faculdade. Aliás, é só por isso que eu suporto aquele inferno. É a melhor escola da cidade. E, para passar na universidade, até o Vilela Sá vale a pena aguentar. Enquanto eu divagava, o sininho da porta tocou. Me virei para saber quem era. Entrei em choque quando o vi entrando, com toda aquela pose despretensiosa de semideus. O Gabriel.
  Ele tinha começado na escola em janeiro e eu já o tinha classificado como mais um FDP (filhinho de papai). Moreno. Alto. Olhos verdes. Estrela do time. Agarrava todas, claro. E eu tinha que admitir: não era à toa. Ele podia ser fútil, mas era realmente lindo de doer.
  Imaginem então a minha cara de surpresa, vendo-o caminhar até a estante de literatura inglesa, passando o dedo pelos títulos. Como se... bom, como se ele estivesse realmente acostumado a fazer aquilo. Espiei por cima da minha pilha de livros enquanto ele, como eu, se sentava no chão e lia Rei Lear.
  Suspirei alto. Tão alto que o fez levantar a cabeça e sorrir, surpreso.
  - Você sempre se esconde atrás do seus livros?
  Calma. Concentre-se. Forme palavras coerentes.
  - Bem, é, nem sempre. Eu estava só... fazendo o inventário.
  - Sei, sei. E esse Alice aberto no seu colo é só mais um dos itens do inventário, certo? Por sinal, é um dos meus livros preferidos.
  - É, todo mundo diz isso. Mas desde quando você, hmm... lê?
  -Ah, quer dizer que todos os atletas são analfabetos? Achei que você mais do que qualquer outras pessoa, soubesse que não se deve julgar um livro pela capa - ele disse num tom magoado mas rindo.
  Eu estava pronta para responder quendo perdi o equilíbrio. Empurrei sem querer a barreira de livros, que desmoronou, me deixando soterrada por Austens e Tolstois. Rapidamente, Gabriel se levantou e me puxou para cima. Perguntou se eu estava bem e, ao ouvir me "aham" em resposta, sorriu novamente.
  - Não morra antes de terminar esse livro, promete?
  Sorri também.
Por: Ludmila Gaspar Bello, de 17 anos que é de São Luís (MA)

PS: Bem criativa ela, né? Parabéns pelo texto! Se copiar dê os créditos, eu digitei TUDINHO!
OBS: Desculpem o tempo sem postar! Juro que eu e a 'G' tentamos manter o blog atualizado. Mas semana passada e essa semana, não sei o que deu nele que não tava querendo postar de jeito nenhum. Prometemos que nas férias iremos fazer de TUDO pra postar todos os dias.
Beijustin, L  ;P

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